Um caçador matou ontem acidentalmente o filho, de 20 anos, durante uma caçada ao coelho, no Monte de S. Pedro Fins, em Amares. O tio da vítima que assistiu à tragédia ainda não se refez. Nem queria acreditar quando "o irmão, que trazia a arma às costas, tropeçou e caiu, e, ao tentar segurar-se, a caçadeira disparou e atingiu o filho nas costas". Delfim Cunha ainda ouviu o sobrinho Joel dizer que não conseguia respirar. Acabou por não resistir .
Nada fazia prever a tragédia que abalou ontem familiares e amigos da vítima, no primeiro dia oficial da abertura da caça ao coelho. O tio da vítima, ainda emocionado, contou ao DN que foi caçar coelhos com o irmão, o sobrinho - a vítima mortal - e mais dois amigos. O grupo estacionou o carro no cimo do Monte de S. Fins, na freguesia de Portela, e, por volta das 08.00, começou a descer por um caminho muito íngreme.
Delfim Cunha explicou que os cinco caçadores desciam em fila o caminho, quando, por cerca das 09.20, o irmão alvejou "acidentalmente" o sobrinho com a caçadeira que trazia às costas. Delfim diz que ouviu "os ruídos" do irmão a tropeçar no valado e o tiro da caçadeira". Depois, só viu o "sobrinho a cair e o pai a atirar-se para cima dele, porque ele ia pela ribanceira abaixo". Ainda abalado com o sucedido, o tio da vítima conta que o irmão "abraçou" o jovem estatelado no chão e só dizia: "matei o meu filho". Delfim telefonou imediatamente para o 112. "Só tentava acalmar o irmão que estava em estado de choque", afirmou.
Antes de morrer, o sobrinho ainda "disse ao pai que não conseguia respirar". Mas, afirma, desanimado, "pouco depois já estava morto". A equipa da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Hospital de S. Marcos, em Braga, ainda o tentou reanimar. Mas o acesso íngreme ao local dificultou a assistência à vítima pela equipa da VMER e dos Bombeiros de Amares, assim como o resgate do corpo.
Segundo o comandante interino dos Bombeiros de Amares, Domingos Ferreira, a ambulância de socorro e um todo-o-terreno, com cinco elementos da sua corporação, assim como a VMER, não conseguiram ir ao local. As equipas tiveram de andar quase uma hora a pé, num caminho bastante íngreme, para chegar junto da vítima mortal. Domingos Ferreira ainda solicitou meios aéreos para a operação, mas tal não foi possível. Para o local deslocou-se "uma equipa de resgate" que teve de subir o monte a pé, com o corpo numa maca, e durante quase uma hora. Só perto das 15.00 é que o corpo deu entrada no Hospital de S. Marcos.
"Toda a família está em estado de choque" e na freguesia de Fiscal, onde vive a família ninguém acredita que o Joel, um rapaz que descrevem como educado, calmo e humilde, tenha morrido de "uma forma tão trágica". Sobretudo, diz o tio, quando "era a primeira vez que ia caçar coelhos". A primeira experiência de caçada tinha sido a da rola, em Julho. "Tirou a carta de caça no ano passado", afirmou. Também Daniel Gonçalves, que foi treinador dele, há dois anos, nos juniores de Lago, o descreve como "um rapaz cinco estrelas".
A Polícia Judiciária está a investigar o caso, mas na freguesia todos garantem ter-se tratado de "um acidente" que abalou "uma família unida" com mais uma filha de dez anos.
Este não foi o único acidente no primeiro dia da época de caça ao coelho, lebre e perdizes. Na freguesia de Vale de S. Martinho, Vila Nova de Famalicão, dois caçadores ficaram ligeiramente feridos. Um dos homens terá avistado um animal e, ao disparar, os estilhaços atingiram os dois colegas que se encontravam perto. Os feridos foram assistidos no Hospital de Famalicão. No Alentejo, dois caçadores sofreram ferimentos ligeiros. Um homem de 63 anos, desequilibrou-se em Reguengos de Monsaraz e arma disparou acidentalmente. O outro caso foi em Borba, quando um caçador atingiu outro por acidente.| Com F.M.
a familia ta derrastos